Wednesday, March 28, 2007

É chegada a hora!

E assim chegou. O dia de colocar na listinha quais são os lugares que quero visitar, o que preciso comprar, tirar fotos dos lugares que sempre passo, do onibus que tomo todo dia, da rua onde moro, do mercado que faço compras. Chegou a hora de sentar na frente do espelho, olhar pra mim mesma e ver o que aconteceu. Ver o que ganhei, o que perdi, o que aprendi, o que morreu e o que nasceu dentro de mim. Ver que minhas bochechas estão mais arredondadas, meu sorriso mais largo, meu cabelo mais enrolado e claro e minhas expressões carregam a marca de quem foi e está muito feliz. Muito Feliz num lugar que escolhi pra ser meu por algum tempo e quiça pra sempre. Mas deixemos o pra sempre pra depois. O que importa é o agora. O que importa são meus últimos 20 dias de Vancouver, os meus últimos 20 dias no sonho que não acabou, mas se realizou.

Agora tempo de sonhar outro sonho e colocá-lo em prática. Mas antes abraçar os amigos, sentar num bar conversar até o dia raiar, dançar um forró, rever sorrisos, aguçar lembranças e materializar o amor. O amor que sinto por cada um que ficou com uma partezinha do meu coração.

E fazendo um balanço, meus ganhos foram maiores do que minhas perdas. Na verdade acho que a única perda foi a financeira(rsrsrs). Acabei investindo em bolsas e sapatos demais!rs!

Mas, o que ganhei com o inglês, com a auto-conhecimento, com as auto-descobertas, com a auto-companhia, com tudo o que fiz sozinha, com tudo o que fiz com outras pessoas, com tudo o que vivi, o que conheci, o que toquei, o que amei, o que falei, foi simplesmente indescrítivel. Foi mais do que meus devaneios na sala do meu pai na madrugada quente de junho. Foi mais do que as conversas malucas minha e da Rita no metro, indo para o cabelereiro imaginando um francês, um canadense, um grego, um americano. Foi mais do que meus sonhos puderam sonhar, mais do que minha imaginação pôde alcançar.Foi tão pra mim, foi tão sublime, foi uma grande experiência.

E agora?

Bom agora eu tenho medo. Medo do primeiro impacto do Brasil, medo de ter medo daquele lugar que tem meu nome, mas não enxergo como meu. Medo de olhar para aquela multidão e não enxergar o sentido, não ver a razão, de não ter motivo. Mas como diria Pe Fábio - quem não tem pra onde ir descobre a graça de saber ficar.

E vai ser exatamente isso que farei. Descobrirei a graça do trânsito, da agitação, da loucura paulistana. E redescobrirei a graça dos meus amigos, e das novas pessoas que estou pronta pra conhecer.

OBJETIVO ALCANÇADO!<p>

Quando eu sai do Brasil, comentei pra algumas pessoas que eu tinha um curso de 6 meses pra fazer, mas que não voltaria para o Brasil sem ter alcançado alguns objetivos pessoais. Domingo, sentada na praia refletindo sobre esses mesmos objetivos, percebi o quanto eu os alcancei.

Eu precisava de um tempo, para curar o coração e livrar os olhos de qualquer recaída. Foi mais rápido do que eu imaginava. E hoje eu tenho mais do que certeza de que o coração está curado, que não haverá recaídas e que o coração está novinho em folha pronto pra se encher.

Eu precisava saber o que eu queria pra minha vida. Essa de saber apenas o que não se quer era muito vago pra minha existência curiosa. Eu precisava entender o que eu sou pra entender o que eu preciso pra ser feliz.

E a paz que senti aqui, que senti domingo vendo as não-ondas do mar, me fizeram entender que o que eu quero não é o que os outros querem. Pelo menos não os outros que até agora conheci. Talvez algum deles chegaram perto, mas em algum momento fomos para caminhos opostos.

Eu precisava descobrir do que era feita a minha fé. Se era feita de medo ou de esperança, de amor ou compaixão, de verdade ou ilusão. E nesse tempo que vivi a minha fé da minha maneira, entendi que muito das coisas que um dia aceitei, não cabem mais na minha vida. É o tal quadrado tentando entrar no círculo. Simplesmente não dá mais.

Porém, foi exatamente nesse período que vi que pra viver minha nova fé era preciso reconstruir um novo modo de viver e de pensar. Um mais coerente com a nova mulher que escolhi ser. Reconstruções são mais complicadas do que construções normais. É preciso ter muita coragem pra demolir os quartos, jogar fora as mobílias com histórias e lembranças e simplesmente comprar tudo novo. Fica caro e trabalhoso. Mas no fim, quando olhamos aquela sala, com a parede da cor que sonhamos, com a cozinha com um toque só seu, quando vemos que têm o seu dedo naquelas paredes e naquele mosaico, tudo faz sentido e o trabalho valeu a pena.

Foi assim que aconteceu. Foi difícil e sofrido ficar sem a comunhão. Mas foi preciso. Pra ver que preciso dela. Pra sentir que preciso do corpo D'Aquele que agora acredito mais do que outrora e que, sigo, da minha maneira, mais do que antes.

E então, após uma respirada dessas longas e restauradoras percebi que eu já podia ir embora. Que colhi tudo o que plantei e comi os frutos. Alguns bons, alguns que decidi não plantas mais. Alguns que não comerei de novo. Não dá esses frutos na terra tupiniquim. Porém lembrarei de todos os frutos comidos. Tenho o gosto deles na minha boca até agora. E terei por algum tempo. Até outro tempo de colheita.

E por fim,

É chegada a hora. De ir embora. Empacotar tudo e pé na estrada.

EBA!

Wednesday, March 21, 2007

3 assuntos

Mais Bute Street

Desde meus 12 anos eu tenho a chave de casa. Desde então nunca mais fiquei sem ela. Já fui, até, a única a ter a chave de onde morava. Porém, nesse último mÊs algo que a 12 anos não acontecia, aconteceu. Eu fiquei sem chave. E isso significou muito mais do que uma simples chave.

Significou ter que ligar pra avisar que vou chegar tarde, ter que saber onde os outros moradores vão ou foram para poder me programar e não chegar antes ou depois da hora prevista. E isso mudou muita muita coisa em minha vida. Pode parecer estranho e até besta, mas morar sozinha pode ser um veneno para o ser humano e eu só percebi isso agora que estou morando com mais pessoas. Mais precisamente 4.

Ter horário pra chegar, ter que sair vestida do banheiro, ter que lavar a louça assim que termina de comer, assistir o que os outros estão assistindo, ouvir o que os outros estão ouvindo, já não fazia mais parte de minha rotina a muitos anos. Na verdade nunca fez muito parte da minha rotina tendo em vista que era só eu e mamys, mas o que eu posso dizer é que essa foi uma das maiores experiências aqui de Vancouver.

A minha paciência e a minha maturidade mais uma vez deram uma guinada daquelas poderosas. QUe bom.

Dylan's

Não ia falar do lugar onde trabalho. Simplesmente porque não tenho o talento do Thiago pra descrever a Sra. que senta sempre na mesma mesa, falar dos meus afazeres e essas coisas. Porém vai ser preciso, tendo em vista que aquele lugar muda a minha vida a cada dia. Não serei mais a mesma depois do Dylan's café.

Se vc está esperando ler que lá é horrível, que fui humilhada, mal tratada e que trabalho feito uma louca, se engana. Acredite, Lá foi o meu melhor emprego até hoje. Lógico que nunca esquecerei os amigos maravilhosos da ESPM ou o clima gostoso do Arqui, porém o Dylan's disperta em mim uma vontade de querer dar certo, fazer o certo, de querer ser alguém, ter alguma coisa que nunca de fato senti. Alem lóóóógico dos construction guys que vão lá tomar café.

Construction Guys(CG)

Pra situar: o Dylan's fica localizado dentro de um condomínio, em frente a um asilo, e a rua principal está em obras por causa das olimpiadas de inverno em 2010.

Por conta disso a clientela é : Velhinhos, Velhinhas, anciãos, idosos, elderly, alguns chineses e os construction guys( pedreio, mas soa muuuuuuuuuito melhor em inglês - peloamordeDeus!) Logo na primeira semana reparei que nenhum dos CGs tinham cabeça achatada, eram fedorentos ou faziam aquele barulho com a boca tão grotesco que só de pensar me dá nauseas múltiplas. Assim que reparei isso, logo vi que em sua maioria os CGs tinham olhos azuis, cabelos mais claros que os meus e muito muito altos. O fato do capacete e da jaquetinha alaranjada não era impedimento pra reparar na beleza de alguns, muitos deles.

Toda vez que vou ao Dylan's me lembro dos pedreiros brasileiros. Então todos os dias aprendo a agradecer o fato de estar no Canadá!! AI os CGs....

Friday, March 09, 2007

Demorei, pois tava criando coragem pra dizer que a Bute street é uma bosta.
Sem detalhes, pois o leitor pode estar envolvido, eu to saindo daqui no fim de março. Um mês com baratas na minha cama, insônia, gente mexendo no meu computador e trocando a minha senha foi o SUFICIENTE. Pra aprender que eu NÃO preciso mais viver certas coisas, E ponto.

Saindo da Bute street e entrando no amigo mais fofo desse mundo, que me salvou de um ataque de nervos!

O Richard para quem não sabe é o suiço mais fofo que existe! Ele é quase um brasileiro, rs O conheci no meio de outubro, ele voltou de sua viagem de carro pelo Alaska e norte do Canadá e começou a fazer o mesmo curso que eu. Logo na primeira semana ficamos muito proximos, logicamente que a princípio me interessei pelo seus lindos olhos azuis e sua altura perfeita! MAs com o passar do tempo eu e ele percebemos que o que nos unia era uma amizade, uma cumplicidade muito melhor e maior do que o envolvimento homem-mulher. Aprontamos muito por essa Vancouver, rimos das coisas mais estúpidas às coisas mais sérias, praticamos muito listening e speaking no Cambie e nos cinemas de Downtown. Porém chegou o dia dele ir embora. E la foi ele de mala e tudo para a Australia ficar por uns dois a três meses e depois voltar para Suiça.

Nesse tempo na Australia nos falamos praticamente todos os dias por e-mail ou mensagem de texto.

Até que a semana passada ele me salvou dessas pessoas chatas e sem nenhuma graça.

Mandou uma mensagem assim:

- Hey Schatzeli, I am going back to Vancouver. See you in March 8 at 7:30am!!

Era exatamente o que eu precisava!! O Richard aqui em Vancouver novamente pra me animar, pra dar um bum nessa cidade que ficara sem graça!

E ontem ele chegou!! E Vancouver já até voltou a ter cor!! É incrível como uma amizade pode salvar um coração. Me lembrei das amizades salvíficas da minha vida.

Rachel, que fez os últimos meses de Florida serem inesquecíveis e provou que quando há verdade não há distância que apague, nunca.

Rita que fez chuva, fez sol, frio ou calor estava alí para segurar minha mão quando ninguém mais quis segurar.

Virgínia que me salvou daquele Arqui que eu já não aguentava mais e me mostrou que o problema não era o lugar, mas sim meu coração.

Luciana que veio dar um brilho em janeiro pra essa cidade fria e chuvosa. E que me deu um empurrão pra voltar a correr atrás daquilo que vim buscar.

E por fim Richard. Que fez eu dar risada como a muito tempo eu não dava.

Por hora é só.